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Perspectivas e visões sobre a possível mudança do nome de Lauro de Freitas.

  • Foto do escritor: Rede Oiti
    Rede Oiti
  • 30 de jan. de 2020
  • 2 min de leitura


Foto: Lucas Lins

Na cerimônia em homenagem ao Padroeiro de Lauro de Freitas aconteceu um fato mais do que curioso. A prefeita Moema declarou que irá enviar para a Câmara de Vereadores um projeto de Lei para resgatar o antigo nome da cidade: “Santo Amaro de Ipitanga”.


Esse assunto é bem complexo e divide opiniões. Há cidadãos – principalmente os recém-chegados - que consideram o nome “Lauro de Freitas” já consolidado e que os políticos deveriam se preocupar com outros assuntos mais emergenciais. Existem também aqueles - sobretudo os moradores mais antigos e católicos- que defendem a volta do nome “Santo Amaro do Ipitanga” por considerá-lo mais representativo e simbólico.


Por fim, há outro conjunto de moradores - formado basicamente por pesquisadores, artistas e gestores culturais - que, ao fazer uma leitura mais crítica sobre a história de Lauro de Freitas, aponta para uma maior valorização da ancestralidade indígena como pedra angular da nossa constituição identitária. Tal grupo defende o nome tupinambá: “Ipitanga” como a denominação que mais reflete o processo histórico local. Considero esse diálogo rico e estou irmanado mais com a última tese (em outro texto falarei sobre isso), mas no bojo dessa questão uma problemática cultural torna-se evidente: O que adianta mudar o nome da cidade se a maioria da população laurofreintese não conhece a sua própria história?


Processos históricos importantes como o levante do Rio Joanes, a emancipação política, a participação de Ipitanga nas Guerras de Independência da Bahia, a formação das comunidades negras como Itinga, Quingoma e Areia Branca (só para citar alguns assuntos) são totalmente desconhecidos. Como os cidadãos podem exercer a cidade participativa - lutar por direitos, honrar os deveres, preservar os espaços públicos - sem o conhecimento da história do lugar onde vivem?


Este quadro pode ser mudado se houver uma política de valorização da história e cultura locais. Lauro de Freitas – uma das economias mais pujantes da Bahia- tem tudo para ser uma cidade educadora, uma capital cultural da Costa dos Coqueiros, porém é necessário construir museus, bibliotecas, teatros, arquivos públicos, monumentos históricos, bem como movimentar as praças, escolas, universidades e centros culturais com uma agenda sistemática de oficinas, cursos e rodas de diálogos sobre a nossa história. Assim, somente depois desse processo de formação é que a classe política poderia organizar um plebiscito inspirado no modelo suíço de democracia direta, onde o povo esclarecido define os rumos da sua própria história. Portanto, mudar o nome da cidade sem antes construir centros de preservação da memória e possibilitar um amplo debate sobre o assunto é “colocar a carroça na frente dos bois”!


Tássio S. Cardoso. Historiador, Gestor Cultural e Doutorando em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia.

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